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SER MÃE DE MENINO ME PERMITE DAR ALGO MELHOR PARA O MUNDO

POR ANA CAROLINA BELLÉ


Quando me soube grávida, dois dias antes do Natal de 2011, algo me dizia que eu seria mãe de um menino. Ok, ok, várias mulheres dizem isso e eu não quero ser a “diferentona”, só quero dizer que desde aquele momento, já sabia da grande responsabilidade que me esperava. A de ser mãe obviamente. A de ser mãe de um menino, me pareceu muito profundo...


Em um mundo onde ainda a masculinidade é diferencial competitivo, ser mãe de um menino me trazia pensamentos que me provocavam a ensinar a ele como ser diferente e mesmo assim, ser aceito. Sim, porque ainda em alguns casos, ser diferente é ser excluído. Uma lástima!

Antônio chegou, e com ele, cada minuto ao seu lado era (e ainda é!) uma oportunidade de crescer com ele e com isso, reforçar que homens e mulheres aprendem mutuamente. Ensinar o Antônio a ser diferente dentro do que é pré-estabelecido junto ao conceito do que é ser homem me fez usar algumas premissas que vivenciei.


E você deve estar se perguntando: “Antônio ainda é uma criança, por que já pensar em conceitos do que é ser homem?”. Eu explico: porque ele já se depara com coisas como “quem usa cor de rosa é menina” ou ainda, “meninos devem jogar futebol”. E ao ouvir isso ele rebate dizendo que seu pai usa cor de rosa e que prefere montar Lego do que jogar futebol. E quando vi (e vejo!) isso seguir acontecendo, lembro então do que vivi como ponto de apoio para ser diferente para ele.


Vou contar algumas histórias: meu avô materno por anos a fio não beijava um neto quando o cumprimentava. Até que o último a nascer, meu irmão mais novo, mostrou pra ele que beijo no avô é uma grande demonstração de amor. Além disso, vi um irmão cheio de talento para desenhar desde pequeno.


Ele amava Cavaleiros do Zodíaco e desenhava lindamente. Vi também outro irmão quebrando paradigmas e nunca jogando futebol, o tal jogo dos meninos. Sempre gostou de atividades que exigiam raciocínio lógico e nada de violência. Me casei com um homem cheio de delicadeza e gentileza, que até hoje passa hidratante nas mãos e cotovelos.


Agora vem o Antônio, com todas essas referências e todas as adicionais que ele mesmo vê e compreende como sendo adequado. Porque esse é o ponto... conceitos de certo e errado ficam muito subjetivos e definitivos. Já o conceito do que é adequado nos permite ver a partir da perspectiva do que cabe em nossa vida.

Com isso vejo meu filho, um futuro homem de sua geração, que beijará os seus homens, que usará cor de rosa, que desenhará e não jogará futebol e ainda, que entenderá que a violência, seja ela física, verbal ou psicológica devem ficar longe de seu repertório. Ele fará isso pois olha ao redor e vê pai, bisavôs, avô, padrinhos, tios, primos e todos os homens ao seu redor se permitindo.


Além disso, emociona-me ver quando ele dá aula sobre o que é ser homossexual (que para minha alegria, tenho gente muito importante em minha vida com esse “título”) ou sobre o fato de que meninos e meninas tem direitos e deveres iguais, ou ainda que lavar a louça ou chorar são coisas que homens podem e devem fazer, ah, daí me sinto lisonjeada. Sinto que ser mãe de menino me permite dar algo melhor para o mundo. Me chancela dizer aos homens, sintam, chorem, se permitam... Me dá o direito de parafrasear Gilberto Gil em sua música “Superhomem” e dizer:

“Um dia

Vivi a ilusão de que ser homem bastaria

Que o mundo masculino tudo me daria

Do que eu quisesse ter

Que nada

Minha porção mulher, que até então se resguardara

É a porção melhor que trago em mim agora

É que me faz viver”


PS: depois de ler essa carta em voz alta para meus amores, Antônio me abraçou e chorou.



ANA CAROLINA BELLÉ






Psicóloga, mãe do Antônio, esposa, filha de Ana e Glauco, neta de gente ímpar, irmã de homens maravilhosos. Alguém que em uma família de muitos exemplares do sexo masculino entendeu que eles são tão ou mais frágeis e sensíveis do que se pode imaginar como padrão.




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